terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma história sem morte - Primeira Parte

- Você não consegue escrever nada em que ninguém morra?
Ele parou de digitar. Virou-se pra ela.
- Oi?
- Sabe, sem morte - folheava as folhas impressas, sem atenção - Você escreve super bem, e tudo, mas precisa sempre ser esse banho de sangue?
- Ele morre envenenado...
- Você sabe o que quis dizer.
- Claro...
Olhou para baixo; coçou o nariz. Coçava o nariz quando ficava nervoso. Ela amoleceu.
- Escuta, eu não quero te bloquear... A história tem suspense, é involvente... É que...
- O quê? - rebateu, já meio sem paciência.
- Esquece.
- Fala!
- É que... é meio mórbido. Me assusta morar com alguém com ideias psicopatas.
Ele soltou um grunhido de desdém.
- Não seja ridícula!
- Não me chame de rídicula.
- Eu não falei que você é; eu disse pra não ser!
- Ah, tá! Faz o seguinte, OK? Escreve o que quiser, mata quem quiser, fechado? Tô saindo!
Apanhou a bolsa num sopetão. Já estava com a mão na maçaneta da porta. Outra vez, ela sairia por cima. Ele detestava isso, como ela conseguia fazê-lo parecer errado.
- Não, peraí... Aonde você vai?
- Me encontrar com a Fernanda. Tá me esperando no café. Posso ir? - perguntou, ironicamente.
- Claro.... Olha, não fique brava. Vou tentar escrever algo bonito pra você, tá?
- Tá... Sem sangue?
- Sem sangue. Sem veneno.
Ela riu. 
- Desculpa eu gritar...
- Deixa pra lá... Vai lá, que sua amiga tá te esperando. Viu, faz um favor?
- O quê?
Correu pro quarto. Voltou com um terno no cabide.
- Leva na lavanderia pra mim?
- Mas... é do outro lado da cidade.
- Eu sei, mas sexta é o casamento e não vai dar pra usar assim. Quebra essa?
- Tudo bem, vai. Agora, deixa eu ir.
- Beijo, divirta-se.
Ela virou pra trás à porta. Mandou um beijo no ar. Ele assistiu a saída. Ficou parado, ainda olhando a porta fechada, enquanto sentia um calafrio no corpo. Aquele, de quando temos uma ideia genial. Apertou o olhar, e um sorriso vitorioso começou a se formar. Ao trabalho!

7 comentários:

Tunga disse...

la vem

lycappi disse...

Voce pretende continuar, ou é do tipo "invente seu proprio fim, o melhor ganha uma Coca-cola e uma coxinha"? (alias, se for o segundo caso, posso trocar a Coca por Guaraná? Nao tomo Coca...)

Cezar Capacle disse...

Hahhaha.... Até tenho uma segunda parte, mas tô quase deixando assim...

Não sei, acho que não vou aguentar...

Skr disse...

Defenestre a segunda parte.

João Luís disse...

Nao seja cruel, hein... Começou, agora termina...

lycappi disse...

Não vai aguentar terminar, ou não vai aguentar esconder tamanha preciosidade do público?

Cezar Capacle disse...

Hehehe... Não vou aguentar guardar a minha versão do final... Apesar de achar que, nesse momento, as que estão nas vossas cabeças são mais legais que a minha...