sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Reino do Fruto Perfeito

Foi quando, após semanas de viagem, ao fazer a curva do rio, ele vislumbrou o Portal da Eterna Primavera, que tanto alimentava as histórias de seu povo. Sabia que, além daquele caminho conformado por parreiras de infindável e deslumbrante florada, estava o Reino do Fruto Perfeito.

Ao atracar sua jangada, foi alegremente recebido pelo povo local, que vestia seus trajes de festa: flores de maracujá-rei e ramos de ormilhão cobriam o corpo daqueles seres muito esbeltos e de pele amarelo-esverdeada.

- Seja bem vindo! Chegou bem na hora. - disse aquele que parecia ser o mestre de cerimônias.

Ao redor dele, os nativos dançavam e entoavam canções. Traziam consigo cestos plenos de romãs-de-corda, que se assemelhavam às semente do fruto que conhecemos, porém se apresentavam sem a casca espessa e amarelada da espécie que cultivamos - apenas as sementes cresciam, uma ao lado da outra, presas a uma fina haste, como um colar de rubis. Os nativos degustavam esse fruto segurando na base da haste com o indicador e o polegar e deslizando seus dedos até a outra extremidade, de modo a formar em sua mão uma porção de bagas ideal para um único bocado. Ofereceram ao viajante alguns exemplares; este aceitou com uma pequena reverência.

Foi conduzido, em seguida, pelo grande Portal. Nem mesmo em seu delírios de criança, quando ouvia as lendas contadas pelos antigos nos festejos de fins de maio, ele imaginara tamanha opulência. Enquanto suas narinas eram inundadas por perfumes frutados que mal conseguia distinguir, seus olhos passeavam por um sem-número de cores e texturas que adornavam toda a extensão do amplo corredor em arco que conduzia à praça central do reino. Frutos se dependuravam às pencas nas parreiras entrelaçadas, que filtravam a luz do sol e pareciam não ter conhecido os rigores do vento leste de inverno.

Em parte divertido com a confusão do forasteiro diante de espécies que ele não reconhecia, o mestre de cerimônias se aproximou, oferecendo-se como um guia turístico.

- São uvas? - perguntou o viajante, apontando para um vistoso cacho de frutos que estava mais à frente.

- Não - o guia sorria -, estas são nossas melancias.

O nativo apanhou duas quando passaram pelo cacho e ofereceu uma a seu novo amigo. “Mas veja, parece mesmo uma pequena melancia!”, pensou ele. De fato, a textura rajada de verde era inconfundível. Notou que seu guia havia puxado a pequena haste da ponta do fruto e a pele (que tinha a espessura da de um pêssego) saíra por completo. Repetiu o gesto e revelou-se uma polpa avermelhada e suculenta, sem sementes, que ele colocou na boca de uma só vez. O sabor era parecido com o das melancias que conhecia, no entanto era muito mais intenso e imensamente refrescante.

Nos dez minutos restantes de caminhada ao longo do corredor de entrada, o nativo se orgulhava de apresentar àquele deslumbrado homem um pouco mais da infinita variedade de espécies do reino: bananas-do-vento, cajus invertidos, figos-amarelos, mentrilos, pêras-mangas. O viajante ainda tentava assimilar as novas experiências sensoriais que essa breve caminhada lhe proporcionara quando chegaram à praça central. Nada mais era do que um extenso gramado de um verde profundo, em forma circular, com duas longas mesas em  madeira de manbaroba, cuidadosamente entalhadas em motivos florais. Essas mesas, curvas, ocupavam praticamente todo o perímetro da praça, deixando apenas duas passagens em extremos opostos, por uma das quais o viajante e sua animada escolta chegavam.

Por trás das mesas, limitando o grande gramado, estendia-se o grande pomar do reino. Suas mudas originais, dizia-se, tinham sido trazidas do Jardim de Tíon, logo antes da Grande Nevasca. À primeira vista, o porte das árvores foi um tanto decepcionante para o estrangeiro. Esperava encontrar espécimes de grande magnitude, mas tudo que viu foi uma formação quase arbustiva, que não ultrapassava os três metros de altura. Logo entenderia o porquê.

Até onde a vista podia alcançar, o pomar se estendia, cobrindo vales e alcançando o pé das montanhas. Quem passeasse por esses campos, notaria que cada espécime produzia mais de um tipo de fruto - eram arbustos mistos. Perceberia também a perfeição de sua formação: nenhum sinal de ataques de aves, insetos ou doenças maculava a pele de suas frutas. No entanto, caminhar entre as árvores não era permitido a todos. Apenas um grupo reduzido dos nativos se encarregava de cuidar do pomar. Na verdade, eles eram um tanto diferente dos demais: ainda mais esbeltos e mais altos, com longos braços e dedos finos e compridos, que se moviam com delicadeza e alcançavam a baga mais alta da árvore mais alta. Eles eram chamados pelos nativos simplesmente de colheiteiros. Foi então que o viajante entendeu a razão do pequeno porte das árvores - nenhum fruto era desperdiçado na colheita.

Os olhos do forasteiro percorriam a cena: sob o céu límpido daquela tarde de primavera - como não poderia ser diferente -, ajuntavam-se à mesa os nativos, às dezenas, saboreando suas delícias. Enquanto alguns deles se ocupavam no leva-e-traz de cestos e mais cestos multicoloridos, outros tantos mantinham a música viva com as harmonias dos clameúdes e o ritmo de seus pangelos.

- Estamos celebrando o retorno das abelhas-d’água! - explicou o guia. De fato, esta era uma das festas mais importantes de seu povo. As abelhas-d’água - assim chamadas por passarem grande parte do tempo flutuando sobre os rios, inclusive durante a procriação -  eram os únicos insetos daquele reino, responsáveis pela polinização de todo o pomar. Nessa época do ano, abandonavam suas colônias flutuantes e enchiam o grande pomar com seu zunido doce, semelhante ao som de mil flautins, com a missão de perpetuar a primazia daquele lugar.

Tamanha era a relevância daquela celebração que até mesmo o Imperador comparecia à praça para as festividades. E era isso que estava acontecendo nesse momento. Pela outra extremidade da praça, um longo caminho em aclive conduzia ao Palácio, de onde um séquito já se preparava para acompanhar o Imperador em sua descida. Pela primeira vez o viajante tinha olhado naquela direção - chamou-lhe a atenção o som das trombetilhas - e pode ver a majestade daquele palácio. Não era uma construção austera de ar militar, como ele havia visto em outras viagens. Lembrava mais uma grande estufa de plantas, com estruturas em ferro retorcido, encobertas de trepadeiras. Dentro do recinto do palácio, dizia-se, cresciam algumas das mais raras árvores do reino, protegidas o tempo todo pela guarda do imperador. Entre elas, um exemplar de tangerina-do-gomo-infinito, cujo fruto poderia ser degustado eternamente, contanto que fosse partilhado entre amigos verdadeiros. Havia também - sem dúvida, a mais valiosa de todas - uma Árvore do Fruto Favorito. Esse raríssimo espécime tinha galhos acinzentados e longas folhas escarlates. Seus pomos eram brancos, do tamanho aproximado de uma laranja, e eram muito difíceis de ser vistos com clareza. Estranhamente, por mais que se olhasse para um deles, era impossível determinar os seus limites, o seu contorno visual. Como se ele estivesse permanentemente fora de foco. Quando apanhado do pé, o fruto adquiria a forma e o sabor da fruta de preferência de quem o colhera.

O forasteiro tinha tomado seu lugar à mesa e estava perdido em pensamentos quando a corte do Imperador chegou ao local. Muitos vivas e ainda mais cestos coloridos encheram a praça, que agora parecia pequena para tamanha celebração. Sem muita pompa, e com palavras curtas, o Imperador saudou seu povo, apenas fazendo conhecimento do visitante com um breve aceno de cabeça em sua direção. Tomou seu assento junto aos demais e logo se ocupou da degustação dos frutos.

Ocupado com um punhado de avelãs-chocolate, o estrangeiro mal notou quando uma cesta um pouco menor que as outras foi colocada em sua mesa, logo ao seu lado. Algum tempo depois, no entanto, algo lhe chamou a atenção. Havia um fruto diferente sobre os demais. Olhou desconfiado por uns instantes, depois agarrou-o. Não tinha dúvidas: era uma goiaba. Não uma goiaba perfeita, mágica, angelical, como tudo que provara até então. Uma simples, trivial e um tanto disforme goiaba. Como muitas que havia visto em sua vida. “Deve haver algo especial nessa goiaba”, tentava se convencer, intrigado. Após breve hesitação, tacou-lhe os dentes. Nada de mais. O velho sabor que tanto conhecia de sua infância, subindo árvores do bosque de sua vila. Ainda tentava entender o que acontecera, quando olhou novamente para o fruto. Não podia ser! Mas era.

- Tem um bicho nessa goiaba. - disse em voz alta, como um tímido alerta.

Todos olharam em sua direção. A música, que não cessara desde sua chegada, calou-se. Os mais curiosos esticavam o pescoço para tentar enxergar, enquanto os mais covardes escondiam-se atrás dos cestos. Com um gesto, o Imperador ordenou que um dos soldados fosse examinar. O viajante tinha-se posto de pé, com o braço esticado à frente, segurando o pomo da discórdia. O soldado se aproximou lentamente, inclinando o corpo sobre a goiaba. Ao vislumbrar o pequeno verme, não pode dizer palavra: sentiu seu corpo e suas vestes se desintegrando no ar, até cair ao chão apenas um discreto monte de areia.

Instaurou-se o pânico na praça. Os nativos gritavam e corriam, esbarrando uns nos outros, procuram fugir dali. Em vão. Depois de poucos passos, encontraram o mesmo destino do bravo soldado. Um a um, foram cobrindo o gramado com a areia fina que antes fora seus corpos. O imperador não teve mais sorte. Não tentou correr. Aturdido, aguardou em seu lugar a sua hora, que não tardou a chegar.

Logo, as árvores do pomar foram acometidas do mal. Como um dominó, caíam em pó sobre a grama. Ao longe, via-se a extensão verde se transformando em areia. Em algum tempo, já atingia o palácio, que sucumbiu igualmente. Até mesmo a grama da praça e dos arredores sumira. O rio secara e seu antigo leito se via coberto pelo mesmo pó. Até onde podia-se enxergar, tudo era uma desolação ocre.

Foi então que nosso viajante se viu em pé, sozinho, no deserto, com uma goiaba bichada na mão.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Meus tempos de república

Mudei para a minha primeira república aos 15 tenros anos de idade. Com a intervenção mediadora de meu pai (“Deixa o moleque!”), consegui convencer minha mãe - por ela, eu ainda entraria de boias na piscina de 1000 litros - de que era uma boa ideia passar a morar numa casa com oito outros adolescentes desconhecidos mais velhos do que eu, sem telefone ou internet para avisar de possíveis incidentes que a combinação de hormônios em explosão e o consumo abusivo de álcool poderiam gerar.

E lá fui eu, no alto dos meus 1,61m da época, pesando abaixo dos 50kg, de óculos, aparelhos nos dentes e muita espinha na cara. Uma sardinha nadando entre tubarões.

Em apenas seis meses nessa casa, aprendi muita coisa. Aprendi que almôndegas congeladas em óleo fervente viram bolas de fogo que sobem até o teto. Aprendi que nove homens em um mesmo ambiente soltam mais pêlos que gorilas com micose. Ampliei meu conceito de sanduíche para “tudo que tem sobrando na geladeira e você pode equilibrar entre duas fatias de pão”.

No ano seguinte, resolvi partir para outra. Eu e mais dois colegas de classe aproximadamente da mesma idade e com interesses similares iríamos montar uma rep só nossa. Deixei minha primeira república sem sequer ser apresentado a todos os moradores dela.

Encontrar nosso novo reduto estudantil não foi nada fácil. Eu e meu colega Tiago Ricci combinamos um esquema que hoje eu nem acredito que qualquer das partes envolvidas tenha achado uma boa ideia: enfiamos nossas bikes no porta-malas do busão. Ele, saindo de Araras, e eu, de Artur Nogueira, nos encontraríamos em Limeira para a busca e pedalaríamos de uma imobiliária a outra.

Incrivelmente, encontramos corretores de imóveis sedentos por comissões e irresponsáveis o suficiente para entregar chaves de casas nas mãos de dois moleques de 16 anos de bicicleta. Terminamos o dia suarentos e felizes: elegemos nossa favorita. Uma micro-casa de fundo, cozinha-sala-quarto-banheiro, por $140 mensais. Oh, the joy!

Vivemos um ano inesquecível, nos fundos da casa de nossos vizinhos, Sebastião e Sebastiana (é sério). A minha tolerância a níveis mínimos de higiene cresceu tanto que eu poderia viver confortavelmente em uma caçamba tira-entulho.

A gente adotou um bichinho de esimação. Uma barata, morta, que morava no bidê. Ela se chamava Cecília. Ficava junto da “cueca-sem-dono”, a mitológica peça de vestuário que passou cerca de dez meses sem que ninguém reconhecesse sua paternidade.

Após as férias de Julho, a toalha de mesa tinha ganhado uma mancha preta. Era uma maçã, que tinha se desintegrado. E um pedaço de macarrão-parafuso que caíra ao lado do fogão ostentava um bolor de três dedos de altura. Repúblicas são o reino das experiências científicas involuntárias.

As histórias dessa época ainda me trazem um sorriso despreocupado ao rosto. Tocar violão três horas seguidas por dia, estudar para provas em meio a gargalhadas. Acima de tudo, vivenciar os transtornos dessa idade tendo ao seu lado pessoas que, se não tinham um grande conselho pra te dar, tinham a incomparável cumplicidade que só quem está passando pela mesma situação pode ter. Ainda hoje, olho pro lado às vezes e procuro um olhar que me diga: “Eu sei como é”. E então me convide para dividir um miojo.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Lodomoioiô

E tem gente que ainda duvida do ócio criativo. Nesse alegre post de hoje, divido com vocês mais uma invenção minha em parceria com meu amigo Oscar - o Lodomoioiô.

Esse jogo eletrizante foi inventado por nós uma noite durante uma balada miada na distinta cidade de Limeira (#orgulhonerd). Após ser mantido em segredo do grande público por cerca de dez anos, é chegada a hora de dividir tamanha inutilidade com todos.

Se você cansou de disputar quem vai comer a última batatinha da porção no simples par ou ímpar, não se desespere! Chega de cara ou coroa! Diga adeus ao Jokenpo (com a possível exceção dessa versão aqui)! Jogue Lodomoioiô e deixe seus amigos boquiabertos!

Oh, meu Deus!

 É simples: os jogadores, com sua mão direita, podem fazer apenas duas formas básicas - um arco ou uma reta.

De quem seria essa mão belíssima?
 
 Como você obviamente já concluiu, a sua mão direita mais a mão direita do oponente podem formar uma das três figuras abaixo:


Tudo muito simples, tudo muito fácil.


É aí que vem a sacada - a mão esquerda! Simultaneamente com a escolha da forma da mão direita, você "aposta" com a mão esquerda qual será a figura resultante, seguindo a lógica:


Sacou a ideia?


Ta-dan!! E eis que você acaba de decobrir uma maneira instigante de tirar "campo ou bola". Bom, possivelmente pessoas que jogam bola com frequência não jogariam isso com medo das reações no vestiário....


Só pra ilustrar melhor, uma jogada-demo:

Tem noção como é difícil tirar foto das próprias duas mãos??


O jogador 1 mandou uma reta e apostou no semi-círculo. O seu oponente, apostando no círculo, lançou um arco. Melhor para o jogador 1...


É isso, crianças. Enjoy!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma história sem morte - Primeira Parte

- Você não consegue escrever nada em que ninguém morra?
Ele parou de digitar. Virou-se pra ela.
- Oi?
- Sabe, sem morte - folheava as folhas impressas, sem atenção - Você escreve super bem, e tudo, mas precisa sempre ser esse banho de sangue?
- Ele morre envenenado...
- Você sabe o que quis dizer.
- Claro...
Olhou para baixo; coçou o nariz. Coçava o nariz quando ficava nervoso. Ela amoleceu.
- Escuta, eu não quero te bloquear... A história tem suspense, é involvente... É que...
- O quê? - rebateu, já meio sem paciência.
- Esquece.
- Fala!
- É que... é meio mórbido. Me assusta morar com alguém com ideias psicopatas.
Ele soltou um grunhido de desdém.
- Não seja ridícula!
- Não me chame de rídicula.
- Eu não falei que você é; eu disse pra não ser!
- Ah, tá! Faz o seguinte, OK? Escreve o que quiser, mata quem quiser, fechado? Tô saindo!
Apanhou a bolsa num sopetão. Já estava com a mão na maçaneta da porta. Outra vez, ela sairia por cima. Ele detestava isso, como ela conseguia fazê-lo parecer errado.
- Não, peraí... Aonde você vai?
- Me encontrar com a Fernanda. Tá me esperando no café. Posso ir? - perguntou, ironicamente.
- Claro.... Olha, não fique brava. Vou tentar escrever algo bonito pra você, tá?
- Tá... Sem sangue?
- Sem sangue. Sem veneno.
Ela riu. 
- Desculpa eu gritar...
- Deixa pra lá... Vai lá, que sua amiga tá te esperando. Viu, faz um favor?
- O quê?
Correu pro quarto. Voltou com um terno no cabide.
- Leva na lavanderia pra mim?
- Mas... é do outro lado da cidade.
- Eu sei, mas sexta é o casamento e não vai dar pra usar assim. Quebra essa?
- Tudo bem, vai. Agora, deixa eu ir.
- Beijo, divirta-se.
Ela virou pra trás à porta. Mandou um beijo no ar. Ele assistiu a saída. Ficou parado, ainda olhando a porta fechada, enquanto sentia um calafrio no corpo. Aquele, de quando temos uma ideia genial. Apertou o olhar, e um sorriso vitorioso começou a se formar. Ao trabalho!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Post Fotográfico #002 - Fantasmagorias

Olá, olá, olá...

Aí vai uma sugestão para aquela noite de tédio, morosidade, falta do que fazer e redundância: com apenas uma máquina fotográfica com tempo de exposição de 15", um celular, uma lanterna e um amigo tão desocupado quanto você, você pode produzir fotos tão inúteis como as abaixo!


Mas fala que não é bem legal? Ah, todas absolutamente sem Photoshop, até a das cabeças! Freaky stuff...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

An Ideal Father

Fuçando aqui nos meus intermináveis backups, encontrei um texto que escrevi quando estava cursando CPE na Cultura Inglesa. Gostei do que li e resolvi postar aqui.

A ideia era escrever uma carta em resposta a um artigo que dizia que os pais estavam perdendo a função na família, dando um exemplo de um pai ideal que sustentasse seu argumento contrário ao autor do artigo.

Não seria capaz de traduzir o texto para português, então ficou em inglês mesmo. Minhas desculpas aos que não lêem inglês, não rolaria mesmo. Mas dá sempre pra jogar no Google Translate... Não!!! Não faça isso!

Sério. Não.


Dear Sir,
I am writing to respond to your article about the declining role in the family of fathers today. Although agreeing with the unclearness of this role, I would not consider it a recent phenomenon, as our society has been taught to see mothers as the cornerstone of families – at least regarding raising children – for as long as history tells us; a society in which children’s first spoken word is most invariably “mommy”. Even then, I strongly believe in the existence of real fathers, those being who, under the ever-lasting hegemony of mothers, succeeded in overshadowing the deeply-rooted heedless stereotype, being therefore able to establish their own role in the family. I would like to briefly relate the story of a man who, following the preceding definition, I regard as an ideal father – Dick Hoyt.
Whoever sees a sixty-five-year-old man running while pushing his son on a wheelchair cannot imagine what this father-and-son team has been through. When his son Rick, who suffers from cerebral palsy, was first allowed to communicate using a custom-designed computer, he, much for Dick’s surprise, typed the words “Go Bruins”. As the attentive father he had always been, Dick realized that his son, once considered by doctors doomed to live in a vegetative state, was a prize sports fan.
Five years had passed when they decided to partake in a five-mile run. Dick, far from being a long-distance runner, would practice for five hours a day, pushing a bag of cement on a wheelchair while Rick was at school. They managed to finish the run and, dazzled after this first valiant attempt, Rick wrote: “I didn’t feel handicapped while I was competing”. Not surprisingly, that single sentence was enough for Dick to embark on even more daunting challenges, including a triathlon competition.
Today, the Hoyts team has participated in over 200 triathlon competitions, amongst other athletic endeavors. For the last 25 years, Dick has pushed his son on a wheelchair while running, carried him on a front-seat when cycling and pulled him on a boat for the swimming part. Nevertheless, I personally see those achievements as secondary. Above all, I see a story of a man that knew his role and his son well enough to be capable of transforming himself in such a way as to allow his child to be what he dreamed of being. That one boy certainly understands the concept of being a father, as he says: “The thing I’d most like is that my dad would sit in the chair and I would push him once”.  What lesson could be more meaningful to be taught to a boy?
Yours faithfully,
Cezar Capacle

terça-feira, 11 de maio de 2010

Lady Gaga vs. REM - Losing My Bad Romance

Muito bem, queridos! Estreando a seção vídeo-musical do blog, meu primeiro mashup!

Para quem não conhece, mashup é a técnica de sobrepor duas músicas de modo a conseguir uma só. Depois, percam um tempinho no YouTube fuçando o que tem por lá. Bem divertido!

Nunca soube ao certo como eles eram feitos. Resolvi, então, tentar fazer um pra ver se era tão difícil quanto parecia. É, é tão difícil quanto parece. Mas eu queria mesmo que alguém me pagasse pra fazer um desses por dia!

Para minha estréia, escolhi um hit do momento e um hit de todos os tempos. Ambos com melodia (fazer mashup com rap é covardia...), apesar de os vocais terem ficados exclusivamente com Lady Gaga.

É isso aí, curtam o som!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tratado das Sílabas Tônicas

Há uns dez anos mais ou menos, por uma absoluta falta de algo melhor pra fazer, eu desenvolvi uma relação entre a personalidade das palavras, por assim dizer, e a posição da sílaba tônica. Apesar de ter discutido a ideia com algumas pessoas, principalmente com meu grande amigo Oscar, nunca cheguei a pôr a parada no papel. Agora vai.

Bem, nesse momento, sei que você está menos interessado na teoria em si do que em saber por que um rapazote de 17 anos se deu ao trabalho de refletir sobre isso. É, confesso que não tenho nada em minha defesa. É claramente uma manifestação de nerdice pura. Mas o que eu posso fazer? Veio a ideia, não posso afugentá-la como corvos que atacam o milharal de minha adolescência perdida (metáfora: a arte de deixar uma explicação mais confusa por meio de imagens desnecessárias).

Também não sei o quanto a teoria é original. Não me dei ao trabalho de pesquisar referências e estudos. Sei que o Luis Fernando Verissimo faz um delicioso uso da sonoridade das palavras, retirando-as do contexto e utilizando-as em significado diverso apenas pelo som delas. Para mim, é apenas um passatempo. Meu tipo de conversa de bar.

Resumidamente, classificaria as palavras assim:

Proparoxítonas: são as mais místicas (viu?). São mágicas (olha só!). Talvez por serem as mais raras da língua. Seu uso eleva um discurso mundano à categoria de refinado. Sílfide, ágora, lápide. Essa cadência de duas átonas depois da tônica deixa o falar pipocante - não há como não chamar a atenção. Lêmure, ínterim. Você não consegue simplesmente ouvir ou dizer uma proparoxítona. Elas te fazem arquear as sobrancelhas, em júbilo. Júbilo! Até mesmo uma palavra medonha como "capota" soaria bem se proparoxítona. Como uma ilha grega. Ilha de Cápota. Um imperativo mandão e horrendo como "engula" poderia entrar para a história tivesse uma tônica favorável. "E, naquela noite, cinco homens definiram as êngulas da Revolução."

Paroxítonas: a tônica da grosseria. Pense em um palavrão não monossílabo. 
É paroxítona. Pense em uma maneira agressiva de se referir às genitálias: paroxítona. Até palavras inocentes que tiveram o infortúnio de nascerem paroxítonas geram um mal-estar. Bigorna. Maneta. Soquete. Sendo trissílaba sem sons nasais, aí fica pior ainda. Tudo pode virar ofensa. "Sai daqui, seu placebo!". Podemos fazer o processo reverso das proparoxítonas: quer deixar uma palavra chula, paroxítone-a. "Mácula" vira "macula". "Pároco" vira "paroco". "Cágado" fica "cagado". Grotesco.

Oxítonas: são palavras leves e esperançosas. Não dá pra se afirmar nada com certeza e gravidade usando oxítonas. "Será?". Às oxítonas cabem assuntos sutis e singelos. Como os querubins. Serafins. Essa tônica quase caindo pra fora da palavra nos dá essa sensação de expectativa, de que vem algo por aí. Um café... Um jequitibá... É difícil por um ponto final depois de oxítonas. Mesmo os verbos infinitivos, quando ainda não contaminados pelos rigores das conjugações, são palavras oxítonas - partir, sonhar, receber.Exceção feita - obviamente - ao futuro, a conjugação natural da esperança: servirá, conhecerão, conquistarei. É mandar uma oxítona e esperar ela voar. Como um sabiá...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Cinco coisas que eu não fiz


Sabe como é, agora que pela primeira vez tenho acesso irrestrito à Internet, como já havia mencionado antes, e que minha ocupação atual me permite – para não dizer que me obriga – passar o dia em frente ao computador, tenho a chance de explorar o que de melhor e pior a combinação de falta do que fazer e liberdade de expressão pode gerar.
É incrível, mas enquanto alguns exemplares de Homo sapiens usam seu tempo livre para divulgar coisas geniais como isso aqui, outros tantos se ocupam com isso. E viva a inclusão digital!
Mas uma bobagem que me agrada são as tais das “Top 5” ou “Top 10” sei-lá-o-quê. Essas listinhas de preferidos em geral são parciais, polêmicas e nada informativas, mas é impossível resistir a uma breve leitura e imaginar quais razões levaram o autor a eleger tal em detrimento de outro tal, e considerar como seria a sua lista em comparação com aquela.
Eu mesmo estreei o blog com uma lista das razões para escrever um blog, lembra? Agora o assunto é outro. E confesso que a escolha é estranha: coisas que tinha a hora certa pra fazer e não fiz.
Pô, escrever um “Top 5 Arrependimento”? Para que o martírio? Ledo engano (aliás, você sabe o que significa “ledo”? Melhor ainda, já viu alguém usar esse adjetivo sem ser com “engano”? E “ledo” tem feminino? Ahá! Corra para o Google, seu curioso!). Como disse Veríssimo uma vez, as pessoas são formadas pelo que elas decidem não fazer. Então, de repente, revisitar essas (não-)escolhas pode te dar uma idéia de como é que você chegou a ser o que é hoje.
Sem mais explicações, à lista:

1-      Ler Monteiro Lobato. Eu sei, eu sei... Shame on me. Cerca de 80% das pessoas, segundo dados que acabei de inventar, quando perguntadas “E como começou seu interesse pela leitura?”, respondem “Lendo Monteiro Lobato”. Eu não li. E por que não ler agora? Porque não rola mais, sabe? O encanto que a leitura causaria aos olhos infantis se foi. Agora seria apenas uma obrigação. E eu não tenho desculpa: até hoje, na estante da sala da minha mãe, está lá a coleção completa de “Reinações de Narizinho”. Quando passo por ela, desvio o rosto, envergonhado. Posso sentir o olhar de censura do Visconde de Sabugosa, meneando a cabeça em reprovação e dizendo: “Tsc, tsc, tsc....”. Pelo menos eu li Série Vaga-lume.

2-      Ganhar uma medalha. Sabe aquelas coleções de medalhas de competições escolares esportivas que todos ostentam, com maior ou menor número de exemplares? Então. Eu não tenho. Nenhuma sequer. Nem de 4º lugar. Nem ficando no banco. Quem me conhece, sabe que minha invejável compleição física fez de mim um fracasso retumbante em esportes. Mas sempre tem o tênis de mesa. Nem isso consegui. Nada. Não sei qual é a sensação de me arcar levemente para que envolvam meu pescoço com a fita que ostenta o pingente da glória efêmera [drama mode off]. As únicas coisas que já ganhei foram um “Bicampeonato de melhor fantasia de carnaval do baile de Artur Nogueira” (aí sim, fomos surpreendidos novamente) e “2º lugar melhor composição musical no festival CotilArte”. Essa música foi parar no CD da minha banda. Chama-se “Escolha Certa” e você ouve aqui.

3-      Xavecar a mulherada. Mais uma vez devido à minha já citada compleição física, minhas desventuras no campo da pegação durante a adolescência são dignas de desprezo. Passei boa parte da minha adolescência perdendo meu tempo com paixonites platônicas. E o fato do mundo mágico do álcool enquanto desinibidor social só ter se me apresentado tardiamente contribuiu para uma total falta de habilidade em dar o approach. Chegando à universidade, onde a esbórnia corre solta, comecei a namorar depois de dois meses. Se não fosse o fato de eu ter conhecido a mulher da minha vida (que, aliás, tem esse blog e esse outro), com a qual estou até hoje e vou estar pra sempre, acho que passar os tempos de faculdade namorando pode ser no mínimo um erro estratégico. Nem posso dizer: “Nossa, depois de 10 anos de namoro, já nem sei mais como é chegar numa mulher”. Eu não corro esse risco. Não posso esquecer o que nunca aprendi. A não ser, é claro, que estivesse escrevendo uma letra da Legião Urbana.

4-      Ir a um show do Pink Floyd. Em 1994, já sem Roger Waters, o Pink Floyd excursionou com a turnê “Pulse”, que vem a ser a produção mais embasbacante que o mundo do rock já presenciou. Eu tinha 12 anos, e nem sabia o que era Pink Floyd. Agora já era, eles prometem vir para o Brasil todo ano e nunca vieram, o tecladista morreu, não vai dar mesmo. Mas eu posso ir num show do NX Zero. Ai, que alegria.

5-      Viajar para a Europa pela metade do preço. Aos desavisados que me lêem, saibam que até os 26 anos de idade, viajantes pela Europa pagam metade em passagens de trem, entradas de museus, alguns shows e eventos. Uma maneira inteligente de fomentar o turismo no estilo mochilão. Uma maneira cruel de deixar a mim (27 anos) com cara de otário. Pelo menos consegui mais um item para completar essa minha leda lista.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sobre a fé



Lembro dos tempos de catequese. Domingo de manhã. Uma infinidade de textos metafóricos explicados literalmente e um sem-número de regras, de “podes” e “não podes”. Decorar os mandamentos e os sacramentos para a chamada oral. Competição para o maior número de nomes de Nossa Senhora.
Como mais de 70% da população brasileira, nasci em berço católico. Batismo, primeira-comunhão e crisma. Com a descrição do parágrafo anterior, até não seria de se surpreender que a Igreja Romana perca 10% de seus fiéis (?) ao ano. Minha razão foi outra. Eu até achava a decoreba divertida.
Cansei de ambigüidades, de falta de lógica, acima de tudo. Não conseguia conceber um ser que é Perdão e Amor condenando algumas de suas crias à danação eterna. Meio do mal isso. Fui procurar outras respostas.
Achei que meu raciocínio lógico e minha necessidade de racionalizar tudo me levariam ao ateísmo. Não mesmo. Eu acho o ateísmo um saco. Pior que isso, só o ceticismo científico. É muita falta de tesão na vida ser cético. Você já viu algum cético sorrir, a não ser com ironia e com aquele ar de superioridade de “olha eles achando que sabem alguma coisa”?
Pô, legal por em dúvida e questionar as coisas. Não fosse por isso, eu também não teria movido adiante (espero). Mas creio que a doação à crença sem questionamento às vezes é tão deliciosamente necessária... Acho esse o grande papel da religião hoje em dia; depois de pastores estelionatários e padres pedófilos, o que nos resta é o misticismo. O grande mistério da fé.
E vai além da religião. Você gosta de acreditar que o déjà vu seja resultado de uma confusão neurológica que armazena o fato que se lhe apresenta na memória tardia ao invés da memória recente? Ou prefere achar que um dom inato de premonição nos dá lampejos de cenas futuras? Ou até que foi uma falha na Matrix? Não importa quão razoável a explicação científica seja, é muito mais saboroso crer no inexplicável. Precisamos disso.
Pra mim, a fé tem um papel de confortar. Não de conformar. Acho o cúmulo o “moro num barraco e estou na merda, mas não posso fazer nada porque é o meu destino”. Isso é conformismo demais. Por outro lado, crer no famoso “nada é por acaso” ajuda a passar por momentos ruins, tirando o maior proveito disso possível e tendo energia para seguir em frente. Sem questionar, sem buscar explicações “preto-no-branco”.
Eu, da minha parte, estou bem com minha consciência escolhendo crer cegamente em algumas coisas e duvidando de outras quando julgo que devo. E sigo buscando conforto no invisível. Como todos, no fundo. Afinal, como dizem por aí, “na UTI, você não encontra nenhum ateu”.

(Ilustração: "Prayer", Cezar Capacle)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Post Fotográfico #001 - Campinas x Artur


Voltando do trampo, em Junho de 2009. De pé, no calor, às 18:30.
O que fazer? Tire uma foto!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mas que raios...

Por que decidi começar um blog aos 27 anos e agora que ele está praticamente fora de moda? Me sinto comprando um videocassete em 2010.

Pois é. Nem sei por quê. Bem, talvez até saiba. Vamos ver.

1- Conexão à Internet. Por mais jurássico que isso soe, só tenho conexão de banda larga há pouco mais de um mês. Longa história de exclusão digital. Agora dá pra acessar o mundo virtual e interagir com ele, então, por que não?

2- Prazer em escrever. Data de muito tempo meu gosto por palavras. Antes de eu querer ser qualquer coisa da vida, eu quis ser escritor. Depois, o senso de responsabilidade (que, se um dia se personificar, eu mato) me levou por outros caminhos. Que igualmente não deram em porcaria nenhuma. Quem sabe a disciplina de escrever com uma freqüência, digamos, semanal me resgate algo de anos de atrofia lingüística;

3- Algo a dizer, ninguém para ouvir. Não adianta, eu tenho um zilhão de idéias e teorias e reflexões por dia a respeito de praticamente qualquer coisa que eu veja e elas ficam zunindo na minha cabeça. E para não atormentar interlocutores que me cercam – que provavelmente não estão com disposição para meus devaneios – escreverei. Na fortuita ocasião de alguém estar interessado poderá ler. E, de repente, entrar na discussão, por que não?

4- Layout diferente. Enquanto ajudava a Carina a criar o novo blog dela, me deparei com a infinidade de templates para blog disponível. Quando vislumbrei a possibilidade, me apaixonei e pensei: “Preciso fazer algo com isso!”

Acho que é isso. Ah, e também “blog” é uma palavra muito legal, né? Pô, se alguém me dissesse quando criança “Quando você crescer, você vai ter um blog só seu!”, eu iria pirar, mesmo sem saber o que era. De certo, eu esperaria que fosse um filhote de alienígena (“Vem, Blog, vem!”). E teria uma frustração tardia. E escreveria sobre isso no meu blog.