quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Meus tempos de república

Mudei para a minha primeira república aos 15 tenros anos de idade. Com a intervenção mediadora de meu pai (“Deixa o moleque!”), consegui convencer minha mãe - por ela, eu ainda entraria de boias na piscina de 1000 litros - de que era uma boa ideia passar a morar numa casa com oito outros adolescentes desconhecidos mais velhos do que eu, sem telefone ou internet para avisar de possíveis incidentes que a combinação de hormônios em explosão e o consumo abusivo de álcool poderiam gerar.

E lá fui eu, no alto dos meus 1,61m da época, pesando abaixo dos 50kg, de óculos, aparelhos nos dentes e muita espinha na cara. Uma sardinha nadando entre tubarões.

Em apenas seis meses nessa casa, aprendi muita coisa. Aprendi que almôndegas congeladas em óleo fervente viram bolas de fogo que sobem até o teto. Aprendi que nove homens em um mesmo ambiente soltam mais pêlos que gorilas com micose. Ampliei meu conceito de sanduíche para “tudo que tem sobrando na geladeira e você pode equilibrar entre duas fatias de pão”.

No ano seguinte, resolvi partir para outra. Eu e mais dois colegas de classe aproximadamente da mesma idade e com interesses similares iríamos montar uma rep só nossa. Deixei minha primeira república sem sequer ser apresentado a todos os moradores dela.

Encontrar nosso novo reduto estudantil não foi nada fácil. Eu e meu colega Tiago Ricci combinamos um esquema que hoje eu nem acredito que qualquer das partes envolvidas tenha achado uma boa ideia: enfiamos nossas bikes no porta-malas do busão. Ele, saindo de Araras, e eu, de Artur Nogueira, nos encontraríamos em Limeira para a busca e pedalaríamos de uma imobiliária a outra.

Incrivelmente, encontramos corretores de imóveis sedentos por comissões e irresponsáveis o suficiente para entregar chaves de casas nas mãos de dois moleques de 16 anos de bicicleta. Terminamos o dia suarentos e felizes: elegemos nossa favorita. Uma micro-casa de fundo, cozinha-sala-quarto-banheiro, por $140 mensais. Oh, the joy!

Vivemos um ano inesquecível, nos fundos da casa de nossos vizinhos, Sebastião e Sebastiana (é sério). A minha tolerância a níveis mínimos de higiene cresceu tanto que eu poderia viver confortavelmente em uma caçamba tira-entulho.

A gente adotou um bichinho de esimação. Uma barata, morta, que morava no bidê. Ela se chamava Cecília. Ficava junto da “cueca-sem-dono”, a mitológica peça de vestuário que passou cerca de dez meses sem que ninguém reconhecesse sua paternidade.

Após as férias de Julho, a toalha de mesa tinha ganhado uma mancha preta. Era uma maçã, que tinha se desintegrado. E um pedaço de macarrão-parafuso que caíra ao lado do fogão ostentava um bolor de três dedos de altura. Repúblicas são o reino das experiências científicas involuntárias.

As histórias dessa época ainda me trazem um sorriso despreocupado ao rosto. Tocar violão três horas seguidas por dia, estudar para provas em meio a gargalhadas. Acima de tudo, vivenciar os transtornos dessa idade tendo ao seu lado pessoas que, se não tinham um grande conselho pra te dar, tinham a incomparável cumplicidade que só quem está passando pela mesma situação pode ter. Ainda hoje, olho pro lado às vezes e procuro um olhar que me diga: “Eu sei como é”. E então me convide para dividir um miojo.

3 comentários:

Paula disse...

Cézar de Deus! O que aconteceu a Cecília?
E eu achando que comer sorvete com colher de pau era o cúmulo de república...

Tunga disse...

hahahahahahahahahahahahahaha!

Raquel disse...

Morri de rir!!!!!!!!!
breijos!!
Raquel